Hoje resolvi falar sobre o Principio da Autoconsistência de Novikov. Como? Má que porra é essa Doutor? Simples, vejam como são as coisas.
Tudo começou quando resolvi querer comprar o Nike Air Mag, que foi lançado em 2011 para angariar fundos para a Michael J. Fox Foundation que luta contra o Mal de Parkinson, doença que aflige o genial Michael J. Fox. E ai? O que isso tem a ver com o tal principio?
Calma neguinho. Estou chegando lá.
Bom, procurando pelo tal tênis vi que o preço é astronômico (por volta de $5 mil obamas), o que desanimou. Para não considerar que perdi meu tempo procurando por um tênis que não rola de comprar, acabei lendo mais sobre o De Volta Para o Futuro 2, filme que originou o tênis. Obviamente, a grande sacada do filme é a maneira genial de como o conceito da viagem no tempo foi usado. Resolvi ler mais sobre o assunto e me peguei lendo sobre outro filme que trabalha o conceito de viagem no tempo de forma magistral: Exterminador do Futuro de 1984, um dos clássicos sci-fi.
E a porra do principio Daniel? Calma, agora vai.
Resolvi assistir o filme novamente e prestar mais atenção no desenrolar dos eventos passados no filme e percebi que a estrutura do roteiro parece respeitar as regras do referido princípio de autoconsistência. Vejam que, num futuro distante, as máquinas é que dão as cartas e o dealer é a inteligência artificial chamada Skynet, que a todo custo tenta exterminar a humanidade, mas se vê impossibilitada pois esbarra na resistência humana liderada por John Connor.
Numa derradeira tentativa de dizimar os humanos, a Skynet resolve enviar um assassino cibernético chamado de Exterminador de volta no tempo a fim de matar a Sarah, antes que ela seja a mãe de John Connor, o que evitaria a existência do próprio John e a sua resistência no futuro. Connor, por sua vez, envia Kyle Reese, um de seus soldados, de volta no mesmo tempo para proteger Sarah e garantir que ele seja concebido.
A grande sacada aqui é que, ao assistir estes eventos, naturalmente achamos que com o envio do Exterminador e de Kyle Reese a história será alterada. O que acontece, na realidade, é que estes viajantes no tempo acabam criando a mesma realidade que tanto querem alterar. Confuso? Vou explicar melhor.
Quando Sarah e Kyle estão fugindo do Exterminador, em um dado momento rola aquele clima e, pimba, habemus sexum, Sarah engravida de um garoto que vem a ser John Connor. Ainda, no fim do filme quando o Exterminador é destruído na fábrica, partes do assassino cibernético são recuperados pela Cyberdyne Systems, dona da fábrica. Esta companhia usa o que sobrou do Exterminador e desenvolve a tecnologia que será a base da criação da Skynet.
Como podem ver, Kyle e o Exterminador foram enviados de volta no tempo para alterarem a história, mas o que eles fizeram foi justamente criar a história que serviu de motivo para o envio deles no primeiro momento. John Connor é concebido e a resistência humana está garantida no futuro e o Exterminador serve base para a tecnologia que culminará na criação de Skynet, a inteligência artificial que quer dizimar a humanidade e que mandará um Exterminador ao passado para matar aquela que dará vida ao líder da resistência. Loco isso né? A Skynet sempre tentará alterar o passado, mas ela mesmo acaba criando o futuro que quer evitar.
Esta lógica é a base do Princípio de Autoconsistência de Novikov que tenta resolver o problema dos paradoxos relativos a viagens no tempo, que teoricamente são permitidas em algumas soluções contendo o que se conhece como curva tipo-tempo fechada (teoria da relatividade geral). Em outras palavras, o princípio explica que a história é sempre consistente e não poderá ser mudada, mesmo que alguém resolva voltar no passado e alterar a história com um novo evento. Caso exista tal evento que possa dar origem a um paradoxo (causar qualquer “mudança” no passado), então a probabilidade desse evento ocorrer é zero.
Aliás, modificar o passado e criar o futuro que conhecemos é conhecido como paradoxo de predestinação: um homem volta no passado para investigar um grande incêndio e sem querer acaba derramando querosene e iniciando o tal incêndio que o inspirou a voltar no tempo para investigar. Falar de paradoxos é papo de outro post.
No fim, o engraçado disso tudo é que a aplicação deste princípio no filme é baseado na premissa que, de fato, os viajantes no tempo acreditam que podem alterar o passado e, assim, modificar o futuro. Uma premissa totalmente contrária ao princípio discutido e base para os eventos do filme.
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